segunda-feira, 17 de abril de 2017

Barreiras Estruturais à Entrada e Saída: Conceitos Iniciais

(por Nathan Marx, Katherine F. Picoli e Nicolas Lee)


  Introdução
    
    Recentemente, assisti a um documentário – destes sobre a vida animal, largamente difundidos em canais de TV a cabo – no qual três leões disputavam a carcaça de um hipopótamo com um grande grupo de crocodilos. A caça boiava à beira de um lago dominado pelos répteis, e o que me espantou foi a ousadia dos leões ao reclamarem para si um alimento mesmo estando em desvantagem numérica e no habitat dos inimigos.

    Em Economia, um tipo semelhante de concorrência ocorre diariamente: empresas reivindicam parte de determinados mercados, opondo-se às resistências das empresas que já atuam em tais mercados e mesmo das características dos mercados em si, correndo riscos e lançando mão de diferentes esforços. A discussão sobre barreiras estruturais à entrada e saída – objetivo desta e das publicações seguintes deste grupo – é, em síntese, a discussão sobre quais são os principais aspectos a serem considerados por quaisquer empresas, gestores e investidores que estão inseridos em mercados competitivos ou que desejam neles ingressar ou deles sair. É essencial, sobretudo, que estes estejam plenamente conscientes das barreiras envolvidas.
    
    Entrada e Saída
    
    Conforme Besanko (2012, p. 312), define-se entrada como o início de produção e vendas por uma empresa em determinado mercado, e saída como quando uma empresa deixa de produzir ou vender em um mercado.  No tocante à entrada, as empresas que já estiverem operando podem ser chamadas de atuantes, dominantes ou operantes (os “crocodilos”, para esgotar a analogia), enquanto as empresas que decidem se arriscar neste mesmo mercado são chamadas de entrantes (os “leões”). É de extrema importância que as empresas atuantes levem a entrada em consideração quando tomarem decisões estratégicas, visto que as entrantes podem ameaçar sua hegemonia roubando participação de mercado e intensificando a concorrência, dada a teoria do oligopólio (maior quantidade de empresas ocasiona diminuição dos preços). A saída, por conseguinte, causa o efeito oposto: as empresas sobreviventes aumentam sua participação e a concorrência diminui.
    Para finalizar, conforme Fagundes e Pondé, excluem-se do conceito de entrada:
    (I)     a compra de uma empresa já atuante por outra que não atuava no mercado;
      (II)       a expansão da capacidade de uma empresa já existente; e
    (III)   a entrada de uma empresa já estabelecida em outra indústria, que apenas altera a forma de utilizar sua capacidade adicionando um novo produto à sua linha de produtos.

    Decisões de entrada e saída
    
    Talvez seja importante ressaltar que, ainda conforme Besanko (2012, p. 312), uma entrante não é necessariamente uma empresa nova: pode também ser uma empresa já ativa em um mercado de produtos ou mercado geográfico, que decidiu se diversificar. A diferença entre empresas novas e as que se diversificam pode afetar os custos de entrada e a resposta estratégica apropriada. Em geral, uma entrante diversificadora possui uma pequena vantagem em relação à entrante recém-estabelecida, mas isso é bastante relativo.
    De qualquer forma, é essencial a todo e qualquer gestor – seja ele um entrante novo, diversificador ou um atuante – conhecer as condições de entrada e saída de seus negócios, visto que estas possuem importantes implicações para a estratégia. Toda entrada deve ser vista como um investimento: há muitos custos irrecuperáveis potenciais envolvidos, ou seja, muito capital é injetado sem quaisquer garantias reais de retorno. Os lucros após a entrada variam conforme a demanda e as condições de custo bem como a natureza do que se chama de concorrência após a entrada. A entrante potencial deve utilizar-se de diversas informações sobre as atuantes (práticas passadas de preço, custos e capacidade etc.). Apenas após uma análise dessas variáveis, a saber, quais são os custos irrecuperáveis envolvidos e quais as características de uma possível concorrência pós-entrada, é que a entrante potencial poderá tomar sua decisão. Em outras palavras, o risco da operação é determinado, em grande medida, pelas barreiras à entrada.
    
    Barreiras à entrada
    
    Em poucas palavras, as barreiras à entrada nada mais são do que vantagens competitivas que uma ou mais empresas atuantes possuem sobre possíveis ou eventuais entrantes. Tais vantagens, segundo Bain (1958), citado por Fagundes e Pondé (p. 3), “se refletem na capacidade de elevar persistentemente os preços acima do nível competitivo sem atrair novas firmas para a indústria [ou mercado] em questão”.  Em outras palavras, a presença de sólidas barreiras permite a uma atuante obter maiores margens de lucro à medida em que divide o mercado com menos concorrentes.
    Segundo Besanko (2012, p. 314), as barreiras à entrada podem ser estruturais ou estratégicas (alguns autores utilizam-se, ainda, de uma terceira classificação, a saber, a de barreiras “estatutárias” ou legais): as estruturais acontecem quando a empresa atuante tem vantagens naturais de custos ou de marketing; as estratégicas ocorrem quando a empresa existente impede agressivamente a entrada. Nestas postagens, discutiremos, sobretudo, as barreiras do tipo estrutural.
    
    Referências Bibliográficas:
    - BESANKO, D. et al. A Economia da Estratégia. 5 ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 591p.
    - FAGUNDES, J.; PONDÉ, J. Barreiras à Entrada e Defesa da Concorrência: Notas Introdutórias.

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