(por Roberta Franco Evers, Alexsandro Brum da Silva e Marcus Marques)
O que é um Arranjo Produtivo Local?
O termo Arranjo Produtivo Local ou simplesmente APL, que é utilizado no Brasil, vem para substituir o termo em inglês “cluster”, que é mais utilizado internacionalmente. Ambos trazem como conceito o agrupamento de empresas e instituições que pertencem a um mesmo setor ou segmento de mercado, que estão perto geograficamente e tem o intuito de gerar competitividade e força econômica, porém, Luis Carlos Di Serio¹ e Jeovan de Carvalho Figueiredo² afirmam que nos clusters a ligação entre as empresas são mais intensas, há um alto nível de cooperação das empresas privadas que estão no conjunto para que todas se desenvolvam e menor presença do poder público. Já no APL há um maior envolvimento do poder público e de agências de fomento (No Rio Grande do Sul temos como exemplo de agência de fomento o BADESUL, Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul). O que podemos entender com relação a esta diferenciação é que um cluster é voltado mais a questão empresarial em si e o APL tem como foco as políticas públicas, por isso tem maior envolvimento do poder público.
De acordo com o Grupo RedeSist³ e seus coordenadores, José Eduardo Cassiolato4 e Helena Maria Martins Lastres5, o conceito propriamente dito de APL é:
"Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento."
Dentre as características dos APLs, podemos citar a intensa divisão de trabalho entre as firmas, a flexibilidade de produção e organização, especialização, mão de obra qualificada, competição entre firmas baseada em inovação, uma estreita colaboração entre as firmas e os demais agentes, intenso fluxo de informações, identidade cultural entre os agentes, relações de confiança entre os agentes, complementaridades e sinergias. Já com relação aos modelos dos agentes que formam os APLs podemos segmentar em: grupos de pequenas empresas ou pequenas empresas nucleadas por uma grande empresa ou associações/instituições de suporte, serviços, ensino e pesquisa de fomento, financeiras, etc.
De acordo com Cristina Ribeiro Lemos6, as características dos APLs podem ser classificadas como:
Fonte: LEMOS, C. (1997).
Fonte secundária: SCHMITT, A. http://sistema.semead.com.br/16semead/resul tado /trabalhosPDF/92.pdf
APL no Brasil
Em agosto de 2004 foi criado o Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais – GTP APL, cuja atribuição é elaborar e propor diretrizes gerais para a atuação coordenada do poder público no apoio aos APLs. É coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior através da Coordenação-Geral de Arranjos Produtivos Locais que se trata de um órgão do Departamento de Competitividade Industrial do MDIC. Este grupo atua na realização e apoio aos eventos sobre o tema no país, participa dos eventos no país e internacionalmente, realiza oficinas de orientação aos núcleos estaduais, facilita o acesso a informação a estes núcleos estaduais, recebe, consolida e disponibiliza os planos de desenvolvimento, no desenvolvimento de um sistema de captação de informações dos núcleos estaduais sobre os APLs e no desenvolvimento de um sistema de encaminhamento e monitoramento das ações dos planos.
O site do GTP APL informa que existem 790 arranjos no país. Em 2014, após a conclusão de um levantamento, existiam 667 arranjos, o que nos mostra que há um constante crescimento dos APLs pelo país. Este levantamento possibilitou a geração de relatórios segmentados por setor econômico, por unidade da federação e por instituição atuante na localidade. Abaixo a classificação dos núcleos estaduais de acordo com a quantidade de APLs cadastrados até o momento:
Fonte de Dados: http://portalapl.ibict.br/apls/index.html
APL no Rio Grande do Sul
Fonte de Dados: http://portalapl.ibict.br/apls/index.html
Podemos citar como exemplo de um APL no Rio Grande do Sul, o chamado Polo de Moda da Serra Gaúcha. Integrado por 24 municípios da região e constituído atualmente por 11 entidades públicas e privadas da Serra Gaúcha e do Estado do rio Grande do Sul, o Polo de Moda visa otimizar a eficácia da infraestrutura técnica, tecnológica, produtiva e de suporte ao setor de moda da região. Sua missão é integrar, promover e desenvolver o setor de moda da Serra Gaúcha. Sua visão é ser instrumento fundamental e permanente de atualização e inovação do setor de moda na Serra Gaúcha. Suas políticas são: buscar, através da sensibilização, o engajamento das empresas do setor, agrupá-las por afinidade, visando o fortalecimento do APL; promover a expansão de mercado nacional e internacional; incorporar o design ao produto do setor; promover o desenvolvimento da gestão empresarial, tecnológica e do conhecimento e viabilizar recursos financeiros para o desenvolvimento de projetos. Seus valores são: respeito e ética nos relacionamentos; comunicação clara e precisa; comprometimento nas parcerias; valorização da identidade cultural; desenvolvimento sustentável e ênfase no mercado.
O Polo de Moda atua em grupos de trabalho divididos nas áreas de Design, Marketing, Mercado, Projetos e Qualificação e Tecnologia. Estes grupos tem o objetivo de discutir as necessidades e apontar ideias e soluções para desenvolver o setor da moda da região, dentro dos focos de cada grupo. São formados por empresários do setor da moda, estudantes, profissionais da área, pesquisadores, professores, técnicos de órgãos públicos, entre outros.
Em abril/2017 o APL lançou o primeiro marketplace coletivo de vestuário do Brasil, o Integramoda Marketplace, uma plataforma virtual para que as marcas integrantes do APL possam comercializar seus produtos direto ao consumidor final, on line e de forma simples. O Polo oferecerá treinamentos específicos para cada fabricante de acordo com o seu nível de conhecimento, para que estes possam administrar suas páginas dentro da plataforma. A plataforma está em fase de criação e o projeto foi desenvolvido em parceria com o Governo do Rio Grande do Sul.
¹ Luiz Carlos Di Serio - Graduado em Engenharia Mecânica pela UNESP, Mestre em Engenharia da Produção pela Marquette University/Milwaukee-USA e Doutor em Engenharia da Produção pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Estudou o impacto da Inovação na Competitividade no Pós-Doutorado pela FGV-EAESP. Seus interesses de pesquisa são a Estratégia e Gestão de Operações, Supply Chain Management, Gestão do Desenvolvimento de Produtos e Serviços, Competitividade e Inovação. Coordenador Adjunto do Fórum de Inovação desde 07/2013. Membro do Comitê Acadêmico ICCB - Instituto Capitalismo Consciente Brasil. Membro do Conselho de Curriculum do Programa MOC/ISC da Harvard.
² Jeovan de Carvalho Figueiredo - Graduação em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mestre em Engenharia de Produção pela UFSCar e Doutor em Administração de Empresas pela FGV-EAESP. Atuou como professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV-EAESP e da FECAP. Foi Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação e Chefe da Coordenadoria de Relacionamento Universidade/Empresa (CRE-PROPP) da UFMS. Docente credenciado no mestrado profissional em Administração Pública em Rede Nacional (PROFIAP) da UFMS. É membro do Fórum de Inovação da FGV-EAESP, atuando na área de inovação para a sustentabilidade.
³ Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais – É uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil, além de manter parcerias com outras instituições da América Latina, Europa e Ásia.
4 José Eduardo Cassiolato - Economista pela Universidade de São Paulo, Mestre em Economia pela Universidade de Sussex, DPhil pela Universidade de Sussex, Pós-doutorado pela Université Pierre Mendes-France. Atualmente é professor associado 4 da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenador da RedeSist, Diretor do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI e Secretário Geral de Globelics - Global Research Network on the Economics of Learning, Innovation and Competence Building Systems. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial, atuando principalmente nos seguintes temas: inovação, tecnologia, sistemas de inovação, competitividade e indústria.
5 Helena Maria Martins Lastres – Economista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Economia da Tecnologia pela Coppe/UFRJ, Doutora em Desenvolvimento e Política de C&T&I pela Universidade de Sussex/Inglaterra e Pós-doutorado em Inovação e Sistemas Produtivos Locais pela Université Pierre Mendès-France/França. Pesquisadora e Professora-Associada ao Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI e ao Programa de Pós-graduação do Instituto de Economia da UFRJ, onde ajudou a criar e coordenar a Rede de Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais, RedeSist. Foi Assessora do Presidente do BNDES onde chefiou a Secretaria de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos e Desenvolvimento Local; e coordenou o Comitê de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Regional, BNDES (de 2007 a 1016). Pesquisadora Titular do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia da Informação (de 1980 a 2010). Principais áreas de interesse: economia e política de desenvolvimento e de C&T; economia da inovação e do conhecimento; arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais, desenvolvimento regional e territorial.
6 Cristina Ribeiro Lemos: Economista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCT), pesquisadora associada à RedeSist, do Grupo de Inovação do Instituto de Economia da UFRJ.
Fontes:
AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE JUNDIAÍ E REGIÃO. Clusters. Disponível em: http://www.adej.org.br/clusters.asp. Acessado em: 18 Jun. 2017.
REDE DE PESQUISA EM SISTEMAS E ARRANJOS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS. Disponível em: http://www.redesist.ie.ufrj.br/. Acessado em: 21 Jun. 2017.
OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS. Disponível em: http://portalapl.ibict.br/index.html. Acessado em: 21 Jun. 2017.
MASCENAI, K. M. C. DE; FIGUEIREDO, F. C.; BOAVENTURA, J. M. G.. Clusters e APL's: análise bibliométrica das publicações nacionais no período de 2000 a 2011. Disponível em: http://www.fgv.br/rae/artigos/revista-rae-vol-53-num-5-ano-2013-nid-47381/. Acessado em: 21 Jun. 2017.
LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. Políticas para a promoção de arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas: conceito vantagens e restrições do e equivoco usuais. Grupo Redesist, 2003. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/redesist/Artigos/LasCas%20seminario%20pol%EDtica%20Sebrae.pdf. Acessado em: 21 Jun. 2017.
CASSIOLATO, J. E; LASTRES, H. M. M. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. Grupo Redesist, 2003. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/redesist/P3/NTF2/Cassiolato%20e%20Lastres.pdf. Acessado em: 21 Jun. 2017.
ASSOCIAÇÃO PÓLO DE MODA DA SERRA GAÚCHA. Disponível em: http://polodemoda.com.br/index.php. Acessado em: 22 Jun. 2017.
COLETIVA.NET. Plataforma e-commerce de Caxias do Sul reúne lojas virtuais. Redação Coletiva. Disponível em: http://coletiva.net/panorama/2017/04/plataforma-e-commerce-de-caxias-do-sul-reune-lojas-virtuais/. Acessado em: 24 Jun. 2017.
INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL. Primeiro Marketplace Coletivo de Vestuário do Polo de Moda da Serra Gaúcha. IEMI, 2017. Disponível em: http://www.iemi.com.br/primeiro-marketplace-coletivo-de-vestuario-do-polo-de-moda-da-serra-gaucha/. Acessado em: 24 Jun. 2017.
SCHMITT, A. O ARRANJO PRODUTIVO LEITEIRO INSERIDO NO ARRANJO PRODUTIVO ALIMENTÍCIO DA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI – RS. Disponível em: http://sistema.semead.com.br/16semead/resultado/trabalhosPDF/92.pdf. Acessado em: 24 Jun. 2017.
CASSIOLATO, J. E.; SZAPIRO, M.; Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas (Publicado em Lastres, H.M.M; Cassiolato, J.E.e Maciel, M.L. (orgs) Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local (Relume Dumará Editora, Rio de Janeiro, 2003). Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/redesist/P3/NTF2/Cassiolato%20e%20Szapiro.pdf. Acessado em 24 Jun. 2017.
LEMOS, C. “Notas preliminares do Projeto Arranjos Locais e Capacidade Inovativa em Contexto Crescentemente Globalizado”. IE/UFRJ, Rio de Janeiro, mimeo, 1997.
FIGUEIREDO, J. C; DI SERIO, L. C. Estratégia em clusters empresariais: conceitos e impacto na competitividade. In: DI SERIO, L. C. (Org). Clusters empresariais no Brasil: casos selecionados. São Paulo: Saraiva, 2007.