segunda-feira, 17 de abril de 2017

Fatores impulsionadores da integração

(por Michele Pereira, Vivian Silva, Willian)



    Os principais indutores para o processo de integração vertical:

  1. Segurança quanto ao suprimento e escoamento: A integração vertical tende a aumentar a segurança, posto que a empresa teria um controle maior sobre itens como qualidade, prazo, preço, especificações técnicas, atendimento ao consumidor, escoamento da produção, ritmo de expansão, etc. A efetivação dessas vantagens, no entanto, irá depender da conjuntura econômica e do grau de maior ou menor eficiência e confiabilidade dos fornecedores e distribuidores.

  2. Redução de Custos: Quando os custos de ida ao mercado (custos de transação), no que se refere a itens como levantamento de fornecedores, análise de produto e controle de qualidade, dispêndios de compra e armazenagem, são importantes ou quando a produção está centrada em processos produtivos que se dão em rápida sucessão, a integração vertical é uma estratégia que possibilita a diminuição de custos. As indústrias siderúrgica e petroquímica são exemplos nos quais a integração é redutora de custos porque seus processos produtivos se dão numa sequência tal que há o aproveitamento de enormes sinergias entre as diversas fases. Da mesma forma, a integração pode ser vantajosa quando o custo de distribuição por terceiros é elevado ou ineficiente.

  3. Apropriação de lucro: Uma empresa verticalizada ou integrada se apropriará da parcela do lucro do fornecedor principalmente quando o mercado está em expansão, já que é sabido que, nessas ocasiões, os preços dos insumos e matérias-primas tendem a aumentar mais que o preço dos produtos manufaturados. Nesta circunstância, quanto mais concentrado for o ramo fornecedor, maior será a apropriação do lucro por parte da empresa que promover a integração vertical.

  4. Poder de mercado e barreiras: A integração vertical pode significar um aumento do poder de mercado da empresa, pois, através da integração, são substancialmente aumentados os níveis de barreiras à entrada de concorrentes, possibilitando, em consequência, uma elevação da faixa do preço-limite, que é aquele nível de preço que não atrai ou não rentabiliza a entrada de novos competidores.

  5. Proximidade do cliente: A integração vertical, principalmente para frente, possibilita aos fabricantes aumentar o seu poder ou contrapor ao crescimento de agentes varejistas como supermercados, lojas de departamentos, atacadistas, etc. Nesse contexto, o objetivo da integração pode não ser o de conquistar uma parcela significativa de mercado, mas funcionar como elemento sinalizador ou moderador de mercado e possibilitar um contato mais estreito com o consumidor final.

  6. Dificuldade para o aparecimento de concorrentes: Através da integração, a empresa pode dificultar o surgimento de concorrentes potenciais, que surgiriam através da integração vertical dos fornecedores ou intermediários. No setor de papel e celulose, o fato de as principais empresas estabelecidas serem integradas dificulta o aparecimento de concorrentes seja pelo volume de investimentos requerido seja pela indisponibilidade de insumos que são controlados pelas empresas integradas, não tendo estas interesse em ser fornecedoras de futuros concorrentes.

  7. Aceleração de Mudanças Tecnológicas: Em setores de lento desenvolvimento tecnológico, o processo de integração pode ser indutor de rápidos trade-offs, que não seriam levados adiante pelos fornecedores ou distribuidores instalados.

  8. Fatores legais e tributários: A sistemática contábil e tributária adotada pelo Estado funciona também para alavancar o processo de integração, podendo minimizar, de direito ou de fato, a carga tributária incidente na cadeia produtiva, evitando o pagamento de impostos em cascata.

  9. Colaboração: Quando a nova atividade a ser integrada ao processo operacional e produtivo da empresa apresentar a possibilidade de utilização conjunta de ativos fixos, pessoal, recursos diretivos/gerenciais ou tecnológicos, o potencial colaborativo pode ser um elemento determinante no processo de integração vertical.

  10. Simplificação tecnológica: O desenvolvimento tecnológico tem levado, paradoxalmente, a uma ampliação da integração vertical em alguns segmentos, por exigir níveis de investimentos e espaço físico significativamente menores, deixando de ser prerrogativa de grandes organizações especializadas.

  11. Laços técnicos e econômicos: A integração poderá possibilitar também a exploração de laços técnicos/econômicos/organizacionais que poderão ser fundamentais no médio ou longo prazos como alternativas de futuras diversificações laterais.

  12. Complementaridade: Existem situações em que a integração é adotada como forma de viabilizar o negócio principal, independente de considerações sobre custo, apropriação de lucro, etc. São situações nas quais o cliente prefere ou não estar disposto a adquirir componentes de empresas diferentes.

  13. Falta de opção: Em determinadas condições, a empresa não tem quem lhe forneça o bem ou serviço, não restando outra opção a não ser a integração. A economia brasileira, até a década de 80, em função do caráter autárquico, foi indutora de um número enorme de integrações verticais pela impossibilidade de as empresas obterem o insumo a não ser pagando altas taxas de impostos de importação.

  14. Vantagem competitiva: Pelos motivos acima apresentados, a integração pode representar uma vantagem competitiva não-desprezível.

  15. Outros fatores: 
  • Comodidade: independentemente de considerações “racionais”, a opção pela integração pode representar uma comodidade, no sentido de que se acha melhor fazer internamente do que comprar fora. Normalmente, nesses casos a decisão é, expost, racionalizada. A necessidade de ampliar espaços para abrigar, ocupar e mesmo ampliar a estrutura interna funciona como impulsionador da integração. 
  • Taxa de risco do tomador de decisão: para o tomador de decisão, a integração, por dificuldade de ser efetivamente mensurada no curto prazo, pode trazer uma taxa de risco e incerteza menor, dificultando eventuais cobranças e responsabilizações em relação a quem tomou a decisão. 
  • Diversificação: a integração vertical é uma grande impulsionadora da diversificação, posto que há grande probabilidade de funções que, num primeiro momento, representam uma integração, com o decorrer do tempo, assumam a configuração de diversificação.
  • Reforço da cultura e valores: algumas organizações optam por desenvolver internamente serviços como o de treinamento de executivos, pois entendem ser fundamental “formar executivos à sua imagem e semelhança, difundindo os princípios de sua cultura”.

Os obstáculos, ou desvantagens da integração

   São fatores que, além de constituírem obstáculos ao uso da integração vertical, podem representar desvantagens futuras para empresas que optarem por essa alternativa. 

  Os principais são: 
  1. Perda de flexibilidade: Por se tratar de um maior aprofundamento da empresa no seu atual campo de atuação, a integração reduz, sensivelmente, a flexibilidade econômica e produtiva da empresa em função da maior amarração ao seu atual mercado, negócio ou processo produtivo. Como a integração ocorre, num primeiro momento, fundamentalmente para atender às suas próprias necessidades, caso haja qualquer tipo de crise ou mudança significativa relacionada a esse setor da economia, todo o capital estará aplicado em um mesmo ramo, o que dificulta qualquer forma de flexibilização. 

  2. Aumento de custos: Em situações de queda prolongada da demanda, quando os preços das matérias-primas caem mais do que proporcionalmente em relação aos preços dos produtos acabados, a empresa integrada não terá vantagens de comprar os insumos de produtores que teriam preços mais baixos que o seu preço de produção. Daí porque as empresas com maior visão estratégica, mesmo fazendo seu processo de integração, evitam abandonar totalmente a compra de insumos de fornecedores externos para poderem reduzir seus custos em momentos de queda nos preços das matérias-primas.

  3. Buraco negro: O desenvolvimento da informática e dos sistemas de apuração de custos, seja por dificuldades técnicas, seja por questões administrativas e políticas internas à organização, é trabalho  árduo separar com clareza os custos de cada estágio do processo produtivo e, consequentemente, da integração vertical, fazendo com que a organização não tenha conhecimento detalhado da sua estrutura de custo e não saiba, por isso, que fases da cadeia produtiva agregam mais valor e lhe dão efetiva vantagem competitiva. 

  4. Aumento do custo fixo: Quando não há plena utilização da capacidade instalada, a integração irradia um aumento de custo para toda a cadeia produtiva, fazendo com que o negócio, como um todo, perca competitividade. A profunda reestruturação pela qual passou a esmagadora maioria dos grandes grupos empresariais brasileiros no período 85/95, tendo por objetivo diminuir custos e melhorar a competitividade, foi centrada no processo de desverticalização das empresas. 

  5. Dificuldade de saída: Por significar um aprofundamento no seu campo de atuação e um crescimento do imobilizado, a integração traz dificuldades à saída de determinado setor, implicando perdas significativas de capital. 

  6. Vinculação a um tipo de matéria-prima: Em função da mudança de hábitos dos consumidores e, principalmente, do desenvolvimento tecnológico, surgem constantemente novos insumos que representam efetiva possibilidade de substituir com vantagens os insumos “velhos”, como, por exemplo, alumínio x aço x plástico ou fibras naturais x fibras sintéticas. Se a empresa for integrada, dificilmente terá condições de se adaptar rapidamente, passando a produzir o novo insumo ou mudando o seu perfil produtivo para comprá-lo de terceiros.
  7. Investimentos maiores: A integração exige investimentos que poderiam estar sendo aplicados no seu foco de atividades provendo uma maior especialização ou, alternativamente, poderiam estar sendo utilizados para a diversificação, permitindo, assim, uma maior flexibilidade.
  8. Novo padrão competitivo: A integração vertical para frente coloca as empresas em mercados nos quais o padrão competitivo costuma ser significativamente diferente do padrão vigente na sua indústria original. Assim, empresas do ramo de alumínio primário, que competem com mais uma ou duas empresas, ao fabricarem produtos de uso final ou ao abrirem lojas de revenda, irão concorrer com uma infinidade de pequenas e médias empresas. Essa diferença significativa de padrão competitivo poderá ocasionar sérios problemas, mesmo tendo em conta o porte da empresa que se verticaliza. 

Abaixo está o link de uma reportagem sobre os benefícios de integração vertical para a Apple, mas que não são abrangente a todos:
http://www.knowledgeatwharton.com.br/article/a-integracao-vertical-foi-boa-para-a-apple-mas-nao-e-para-todo-o-mundo/ 






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