quarta-feira, 12 de abril de 2017

Transição entre economias de Escala e Escopo

(por Juliano Terterola, Gabriel Buscher D'Oliveira , Guilherme del Valle da Silva)

  
 Neste artigo, iremos apresentar alguns aspectos sobre a transição das economias de escala para as de escopo para esclarecer melhor alguns conceitos e desmistificar outros, que muitas vezes são apresentados na literatura conduzindo à conclusões errôneas. 

  Quando analisa-se o impacto dos equipamentos de produção flexível na organização da produção, observa-se a redução dos tempos e custos - e a consequente possibilidade de produção em lotes menores - resultando na exploração de economias de escopo. 

  Alguns autores apresentam o resultado de uma série de estudos realizados em empresas atuando nos setores de vestuário, impressão gráfica, válvulas e equipamentos industriais, equipamentos para encadernação, válvulas hidráulicas e caixas de câmbio, bicicletas e indústria automobilística, comprovando os cortes nos tempos e custos citados e a redução da escala de produção de cada produto. 

  As taxas de utilização dos equipamentos crescem devido à redução dos tempos de 'set-up', possibilidade de funcionamento durante um certo tempo sem operadores e menor número de panes. No entanto, é comum um exagero nas ideias a respeito da flexibilidade dos novos equipamentos. 

  Por exemplo, na Ford entre 1914 e 1973, o número de modelos oferecidos aumentou de 2 para 12. No entanto, considerando somente o chassis básico dos veículos, o aumento foi de apenas 2 para 5. Assim, os novos modelos oferecidos correspondem mais a mudanças no estilo, especificações e cores do que novos produtos. Verificam-se dois pontos importantes: primeiramente, a dificuldade de se distinguir um produto de fato diferente de uma mera modificação de um produto mais antigo. 

  Em segundo lugar, a existência - até hoje - de limites econômicos à flexibilidade, que em setores como metal-mecânica e indústria automobilística se fazem particularmente notáveis. Ao que parece, o número de modelos oferecidos por algumas fábricas de automóveis japonesas ao invés de aumentar nos últimos anos, ao contrário, diminuiu.  
Quando desloca-se a análise a nível de produtos para o nível da planta, chega-se a resultados mais importantes, que evidenciam a confusão que se faz entre as economias de escopo a nível de produtos e a nível da planta como um todo.

  A implementação das novas tecnologias estaria facilitada pela queda nos custos de microprocessadores e consequentemente dos bens de capital, além da redução do seu tamanho. Como conseqüência, estaria possibilitada ao extremo a operação de plantas menores. Portanto, a padronização de 
equipamentos e robôs estaria facilitando ainda mais a queda nos seus preços. Por fim, a modularidade das novas tecnologias permitiria a expansão da produção pela simples adição de pequenas partes, formando um sistema expansível. 

  Levantamentos realizados em vários setores da Europa e Japão concluíram, com base em indicadores de mão-de-obra, que de fato o tamanho médio das firmas está diminuindo, com o concomitante aumento da proporção de pequenas firmas nas indústrias.

 Apesar da crescente miniaturização dos equipamentos de base microeletrônica, não se verifica uma queda na capacidade destes. Pelo contrário, devido à rapidez e eficiência destes equipamentos, além dos cortes nos tempos de 'set-up', pode ocorrer um aumento da capacidade da planta, o que se passou a chamar de compactação.

  Alguns setores onde as novas tecnologias possuem maior penetração. Se na década de 1970 a produção ótima na indústria automobilística era de aproximadamente 250.000 unidades, as novas plantas atuais também produzem de 250.000 a 300.000 carros, apesar da tendência apontar sempre para a diluição da produção total em maior número de modelos.
Mudanças notáveis também em firmas relativamente pequenas de eletrônica, instrumentação industrial, além das indústrias de processos,  como siderúrgica e papel e celulose.

  As economias de escopo, como foi observado acima, são economias de escala. Mas, ao invés de se referirem a um só bem, se referem a um conjunto destes. O conceito não é novo, e não se relaciona diretamente com as tecnologias de base microeletrônica: estas, sim, conferiram uma nova dimensão às economias de escopo, ampliando a viabilidade de sua utilização. 

  Com a identificação do conceito de economias de escopo com o de economias de escala e as observações feitas em relação aos custos das novas tecnologias e o seu efeito de 'scaling-up' na produção das firmas, restringe-se ao extremo a amplitude setorial da difusão do conceito. 

  Elimina-se, de início, a ideia de pequenas firmas usufruindo economias de escopo. Isto, de fato, não chega a ser tão surpreendente quando se considera as complexas questões a serem enfrentadas na produção de maiores variedades, tais como: os altos custos de capital; os problemas técnicos que se apresentam quando a automação flexível começa a ser empregada; a necessidade de avançados conhecimentos e práticas de integração, gerenciamento e manutenção do aparato tecnológico. 

  Se forem realmente levados em consideração apenas os setores que vêem possibilitados os investimentos nas novas tecnologias, fica-se com as indústrias que têm escala de produção: isto é, precisamente as indústrias que exploravam as economias de escala no paradigma Fordista de produção em massa. 

  Concluindo, as economias de escopo beneficiam justamente os setores que se beneficiaram - e se beneficiam - com as economias de escala. Uma está inteiramente dependente da outra.

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