(por Diogo Machado, Leonardo Souza e Luizvaldo Kroll Bujes)
A força de políticas industriais ineficientes
Investir em setores sem um alto retorno social pode gerar efeito contrário ao desejado: custos maiores que benefícios e redução de eficiência da economia. É comum vermos casos de empresas que são apoiadas pelo governo e que, dificilmente, se encaixariam na definição da política industrial. Há, por exemplo, setores tradicionais e estabelecidos há um bom tempo que não são particularmente inovadores ou que poderiam se encaixar na definição de indústria nascente. E, mesmo assim, recebem ajuda do governo. Isso acontece porque a política industrial tem efeitos distributivos e há, portanto, ganhadores e perdedores. Quem ganha com esses estímulos dados pelo governo? As pessoas associadas ao setor incentivado: empresários do setor aumentam seus lucros e trabalhadores com habilidades específicas ao setor têm ganhos salariais. Os ganhos são concentrados em um conjunto pequeno de pessoas, que estarão dispostas a gastar tempo e dinheiro para pressionar políticos a levar a política em frente. Esse grupo também tende a ser homogêneo, isto é, seus interesses são alinhados, de modo que terão mais facilidade em se organizar para influenciar na escolha de políticas públicas.
As perdas associadas à política industrial, no entanto, são espalhadas em um grupo bem maior. No caso da política ser realizada via subsídio a um setor em específico, o dinheiro do subsídio tem que vir de algum lugar - em geral, vem da arrecadação de impostos. O custo da política, portanto, recai sobre os contribuintes, um grupo bem maior e espalhado. E como há um grande número de contribuintes, o custo individual tende a ser pequeno. Neste caso, o grupo beneficiado tem todo o incentivo do mundo a lutar por sua implementação e manutenção. Mas o grupo prejudicado, apesar de mais numeroso, é bem heterogêneo e tem dificuldades de se organizar para barrar essas políticas. Algumas pessoas sequer ficam sabendo da existência delas. E como a perda individual tende a ser pequena e espalhada, elas têm pouco incentivo individual a lutar contra tais políticas.
O resultado disso tudo são políticas ineficientes que persistem por um longo tempo.
“Para aumentar sua efetividade, a política industrial deve operar através da concessão de benefícios por prazos limitados, condicionados ao cumprimento de metas de desempenho e contrapartidas por parte dos beneficiários do apoio público“ (KUPFER, 2003, p.106).
“O sucesso da política industrial dependerá crucialmente da habilidade do Estado em direcionar capital para as atividades selecionadas, para o que a proficiência no desenvolvimento de um sistema de financiamento de longo prazo para o investimento joga papel decisivo” (KUPFER, 2003, p.106).
“Não se pode esquecer que os recursos para fazer política são limitados e os processos decisórios são carregados de racionalidade limitada. Por lidar com o longo prazo, a política industrial opera ela própria sob incerteza, fazendo da existência da uma institucionalidade altamente capacitada talvez o mais importante requisito para o seu sucesso” (KUPFER, 2003, p.107).
Referências Bibliográficas
KUPFER, David. Revista Econômica: Política Industrial. Rio de Janeiro/RJ —2004.
Texto para Discussão n° 1452, Desafios da Real Política Industrial Brasileira do Século XXI. Brasília, dezembro de 2009.
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